O que a música In Maidjan, da banda Heilung, pode contar sobre Hellblade 2

Antes de tudo, dá uma olhada neste trailer aqui, por favor.

Não sei você, mas eu arrepiei dos pés a cabeça.

Depois de ter tido um siricutico só pelo anúncio da produção, resolvi caçar umas informações periféricas pra saciar a curiosidade. Sentiu o drama da música, né? Então, a escolha dela não foi à toa, não. Chama-se In Maidjan, da banda Heilung [termo alemão cuja tradução significa “cura”]. Quem jogou Hellblade nota a imediata associação. Quem não, aconselho ouvir este podcast, em que discutimos à exaustão sobre o jogo.

A banda surgiu em 2014 com integrantes alemães, noruegueses e dinamarqueses. Agora, olha que doido isso aqui: a música do grupo se baseia em inscrições de artefatos da Idade do Ferro (cujo início se dá por volta de 1.200 A.C.). Aliás, a caracterização toda da trupe inspira-se nos costumes ritualísticos nórdicos. Além de instrumentos que incluem, entre outros objetos, ossos humanos, a vestimenta nas apresentações ao vivo recria o paganismo viking de maneira extraordinária. É uma aula de história cantada e visualmente deslumbrante. O clipe a seguir dá um gostinho do que tô dizendo.

Voltando ao tópico do post. Reparou que não dá pra entender picas do que a Senua canta no trailer, né? Considerando que se trata de um idioma protogermânico, seria de se espantar se tivesse entendido. A história dessa língua remonta a cerca de 1.000 A.C., quando “tribos falantes do Protoindoeuropeu chegaram ao norte da Alemanha.” O protogermânico de fato se consolidou por volta de 500 A.C. e é uma mistureba entre inglês antigo, baixo e alto alemão, norueguês, irlandês e dinamarquês.

Tá, cazzo, e o que isso tem a ver com o trailer? A letra, oras. Ela dá a pista da premissa do jogo (evidentemente, essa é uma suposição minha, não um fato).

O canto original é esse aqui:

Harigasti teiwa!

Tawol athodu ek erilaz owlthuthewaz niwaremariz saawilagar hateka harja
Ha hu hi he ho he hi ha hu

Fehu uruz thurisaz ansuz raidho kenaz gebo wunjo
Hagal naudhiz isa jera eihwaz perthro algiz sowelu
Tiwaz berkano ehwaz mannaz laguz ingwaz dagaz othala

Wuotani ruoperath
Wuotani ruoperath

Gleiaugiz eiurzi
Au is urki
Uiniz ik

Como eu não faço a menor ideia de protogermânico, cacei o que seria uma tradução mais aproximada – e que se não é exata, ao menos dá uma ideia do que é dito.

Corromper!


Venha, convidado Tyr

Para esta invocação

Eu, a Mestre das Runas, serva de Odin, chamo aquele do Sol para curar o nosso exército


Ha Hu Hi He Ho He Hi Ha Hu


Wealth, Aurochs, Thorn, Divine Breath, Travel, Torch,

Gift, Joy, Hail, Need, Ice, Harvest,

Tree, Luck, Elk, Sun, Creator, Birch tree

Horse, Man, Water, Fertility, Day, Home


Odin, prepare-se para a batalha!


{Gleiaugiz Eiurzi

[Que seja de ajuda]

Uiniz Ik}

A considerar: Tyr é o deus da Guerra (ou da Justiça, se preferir) na mitologia nórdica, filho de Odin, o deus responsável por vigiar os nove reinos. A terceira estrofe são nomes de runas nórdicas.

Num espectro mais amplo, o álbum Ofnir, de onde a música In Maidjan faz parte, fala sobre um vilarejo pacífico que, num dado momento, é obrigado a ir à guerra. Alguma semelhança com o trailer?

Resumo do resumo até aqui: associando o canto com as imagens, eu chutaria dizer que dessa vez Senua está com sangue nos olhos para defender sua terra e seu povo. Aguardemos.

O trailer também tem um festival de inscrições rúnicas, incluindo a pintura facial da personagem. Considerando o tanto de derivações do alfabeto rúnico e as milhares de combinações possíveis entre os fonemas, só um linguista especializado seria capaz de traduzir. Entretanto, pegando por base as runas mais básicas da era viking, dá pra arriscar o que temos ali no finalzinho do vídeo.

Isoladamente, há ali as letras Y e P.

O Y (que lembra um tridente redondo) lê-se Ýr e tanto pode ser um nome feminino quanto ser traduzindo como ‘árvore’; Já o P (que remete a um tridente quadrado) eu não faço a menor ideia.

Unidos, como na imagem, podem remeter a um símbolo de proteção ou, como uma outra busca sugere, “o conflito final”. Digo pode porque, diferentemente do alfabeto como o conhecemos e usamos, na comunicação ancestral era comum o “sigilo”. Grosso modo, uma forma de representar uma ideia por meio de uma escrita inconsciente. Se quiser viajar mais nessa maionese, dá um google aí por “Semiótica da Sigilização“. E eu juro que tô sóbrio.

Se houver um mínimo de acerto nisso, ambas as interpretações, coincidentemente, se encaixam tanto com a invocação da música quanto com as imagens do trailer. Mano, surtei.

Se você conhecer algum linguista que manje de runas nórdicas e/ou vikings e quiser colocar a pessoa na conversa, manda bala. Eu ficaria bem feliz em prolongar essa história.

 

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